segunda-feira, 17 de outubro de 2011

FELICIDADE


Se entendi bem a Ética a Nicômaco, de Aristóteles, a discussão sobre a felicidade entre os gregos tinha dentre as posições mais aceitáveis aquela de que felicidade significa somente aquele momento em que, no fim da vida, um homem vê o todo de sua existência e conclui que ela foi uma realização completa de suas potencialidades, virtudes e riquezas. Se uma vida humana durasse 60 anos, digamos, talvez a felicidade custasse a última semana, no leito de morte, ou, mais tragicamente, o último segundo. O tempo preciso para ter certeza de que a vida foi boa e não pode piorar, porque não há mais tempo para isso.

A ideia é um pouco estranha para nossa consciência moderna. Para nós (e desculpem-me a ousadia de falar por todos) a felicidade seria um estado duradouro de prazer. Não o fim de um processo, mas o começo e o meio também. Ou senão, pelo menos os "momentos felizes" são a verdadeira felicidade. Nada de vida inteira, nem meses, nem anos. A felicidade só preenche pontos quase isolados: foi o seu aniversário de cinco anos, quando você sentou no seu primeiro carro, ou simplesmente o dia quando você encontrou o amor da sua vida.

O certo é que somos felizes no tempo e no espaço. E que só podemos ser felizes no tempo e no espaço em que existimos. Talvez não haja nada mais feliz que uma boa certezas, e se posso dizer que sou otimista (pelo menos em algo na vida), é nisto: tenho guardado cada vez mais fortemente a ideia de que seja lá o que for ser feliz, isto acontece no tempo presente, e no lugar em que se está. Uma vida inteira é muito pouco para viver o presente. Um segundo é desperdício demais, se já podemos viver bem em um centésimo, um milésimo dele.

2 comentários:

Thalita Castello Branco Fontenele disse...

Ultimamente tenho me concentrado nisso, nesse presente absurdo que - sei lá se porque nos faz feliz - nos faz viver.

Feliz ao te ler!
Beijo.

Jonas Torres disse...

Nem o passado lamuriento dos saudosistas, nem o futuro idealizado dos visionários. Fisgar o fogo do presente.
Gosto muito de sua escrita.
Aquele abraço. =)