quinta-feira, 7 de abril de 2011

O MONSTRO

Por quê? Esta é a mais frequente pergunta depois de tragédias como a de Realengo. São estes fatos que nos mostram nosso lado "humano", nossa compaixão, nosso sentimento gregário. E nada disso consegue nos responder por que tais coisas acontecem. Melhor querer saber por quem. Quem faria algo assim? Um monstro. E de onde nasce o monstro? Onde estão suas fotos de infância? Sorria, brincava? Falava da morte, de mulher, de futebol? Tinha amigos ou só inimigos?

Reunimos cada traço de informação que podemos e formulamos um mapa. Um tipo estranho de mapa, é verdade. Os sorrisos ou misérias de um homem servem para traçar um caminho que não nos leva a ele próprio, ao seu eu mais profundo. Este eu profundo do assassino, sua voz própria, não nos interessa mais, pois ele morreu. Suicidou-se, sua carne apodrece impunemente. Então para onde queremos que nos leve o mapa, a análise, a resposta que tanto buscamos? Obviamente a outros. Aos outros monstros, que se escondem sei lá onde, planejando quando vão matar criancinhas, estuprá-las, ou quem sabe matar aqueles colegas que não olhavam muito amigavelmente, ou que não davam bom dia.

É o acaso, contudo, que nos assusta. Um perfil criminológico não nos dará poderes para determinar os caminhos da vida e da morte, da justiça e da injustiça. A consciência do pouco que podemos fazer para evitar a injustiça no mundo, de uma forma geral, não combina com as nossas hipóteses educacionais, nem as metáforas de "cura" que delas decorrem. Nossos sermões tem pouco efeito sobre os "incuráveis", os "monstros". Os psiquiatras, que nos examinam o cérebro, não conseguem prever sequer a gênese dos que eles consideram loucos; muito pouco conseguem dizer sobre aqueles que não são loucos, mas são simplesmente, no sentido mais vulgar e simplificador do termo, maus.

E agora? É esta a verdadeira pergunta do acaso. É no mundo de hipóteses indetermináveis que a esperança de uma bela criança é abruptamente interrompida sem aviso, sem justiça, por um outro ser humano que desenvolve a necessidade (às vezes controlável) de matar. Eis o mundo do acaso; não é, porém, o mundo do destino, da fatalidade. O mundo não é um jogo de Deus: é uma tarefa incompleta. O assassino envolto na missão neurológica de matar foi, então, surpreendido pelo tiro certeiro de um policial militar. Este, por sua vez, foi avisado por uma criança baleada no rosto. Há liberdade, mas, infelizmente, muitas vezes tardia.

E a nós? O que cabe nesta corrente que ora se estende e que queremos, com nosso choro, pegar? Talvez, somente refletir, às vezes rezar. Talvez evitar alimentar, com nossa compaixão, os pensamentos mais fáceis, de mitificação de bandido e herói. Acima de tudo, não nos apegar aos métodos mágicos de controlar o incontrolável. Façamos do acaso um elemento a mais da nossa liberdade, e não nos prendamos à lamentação ou, pior, ao planejamento inútil e pretensioso.