terça-feira, 17 de agosto de 2010

ANO DO TIGRE



Nunca entendi quantos dias tem o ano chinês, ou de quanto em quanto tempo os bichos se repetem na roleta dos séculos. Lembro da primeira vez em que eu soube que em algum lugar do mundo havia um outro zoodíaco. Era num livro, quase-panfleto de papel jornal, que talvez vendesse em bancas comuns. A cor da capa era preta porque era um escuro céu estrelado, fotografado pelos Deuses ou pelos satélites. Quiromancia, tarot, horóscopo, tudo muito fácil. O mundo, ao contrário do que me ensinavam no colégio, não era divino: era mágico.

Hoje em dia, é mais divertido e alentador pensar que o mundo é governado pelas forças cósmicas do que pelo espírito mundano das nossas necessidades por conforto, nossa sede, nossa ética católica e sem Deus. A promessas paradoxais do ano de grandes felicidades e grandes tormentos não surpreendem a colheita agroindustrial, que se rege pela mesmas regras que nos submetem a algo que podemos e sempre poderemos resistir. Esta opção melhorou alguma coisa? Parece que não. Antes pelo menos nós sabíamos, ainda que enganados, o bicho que estávamos montando.

No fim das contas, o ano do tigre é uma efeméride casual, aproveitada por místicos um pouco falidos, esperançosos por um programa de televisão que queira incluí-los em pauta. Mas também pode ter algum significado para as pessoas que, como eu, tem 20 e poucos anos. Além das festas de mal gosto, para esta faixa-etária também se oferece o trágico fim da adolescência, repetidas vezes e sempre repentinamente, um pouco como ocorre com os vilões dos filmes de terror. Lutando burocraticamente, nos tempos livres a minha geração olha o chão e tenta ver se o dorso do mundo é listrado, se tem pêlos onde se agarrar.

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