domingo, 10 de maio de 2009

O MÁXIMO


“O nosso lar/ desmoronou/ meu sabiá / meu violão”, o rádio cantava na sala da frente ecoando pelo longo corredor da minha adolescência. Hoje só falta um membro daquele conchavo que éramos nós.

Minha mãe por biologia se concentra em limpar um pequeno prato e, mirando o ralo, esconde o rosto. À mesa, sentada , minha mãe contratual, a ama, a empregada doméstica, extirpada de nós pela doença, como o câncer que extirpamos dela. Como o seu útero, extirpada.

Ela também olhava em direção a minha mãe e, somente por isso, ocultava o rosto. Suas expressões não eram importantes ali, mas Magritte era. Não é nada que só vejamos a nuca de quem amamos, privados de uma face, com medo de esquecê-la. Pior são eles, que não se vêem a si mesmos, por que a imagem do espelho lhes virou as costas, como a parede de azulejos que se fez opaca. E o máximo que fiz foi escrever um texto.

Um comentário:

Thalita Castello Branco Fontenele disse...

Nada... Fez outras coisas: me comoveu.